Consultório particular é um blog no qual compartilharei as aventuras de minha vida, que é um verdadeiro AVC. Sou acadêmico de medicina (terminando o curso este ano), um pouco desligado, um pouco desesperado, totalmente casado e por hora mal humorado.
sábado, 29 de janeiro de 2011
Plantão no suzão
Internato é o período final do curso onde executamos na prática nosso conhecimento 'adquirido' nos anos anteriores em sala de aula.
Chegou o dia em que Cameron, minha dupla de internato, e eu estaríamos em nosso primeiro plantão no pronto socorro do hospital da cidade. Nunca havia feito nem estágio em algum pronto socorro e a ansiedade daquele primeiro dia corroeram minhas unhas na véspera do tal dia.
Era um plantão noturno, de 12 horas e me esforcei para chegar 15 minutos atrasado, afinal, eram 15 minutos a menos desse longo meio dia (meia noite, no caso).
Esperei Cameron na porta de entrada de funcionáris do hospital e percorremos os corredores sombrios daquela noite rumo ao PS. Imagino que a sensação que tive de ir ao meu primeiro plantão seria a mesma de um presidiário americano no corredor da morte.
Passamos por aquele corredor abarrotado de pacientes, uns idosos, outros fedidos, outros ensanguentados outros sem nenuma característica anormal, mas todos com um ódio de indignação na cara, imagino eu que pela demora, afinal sabe-se lá a quantas horas estavam na espera pelo atendimento..
Falamos com o preceptor, explicou-nos para sermos eficientes e deu dicas de como fazer a prescrição pelo sistema no computador. Após isso, o gente boa saiu e nos deixou a sos com a clientela mais gente boa ainda..
Entramos cada um em um consultório.
O primeiro, segundo, terceiro foram fáceis (talvez por não apresentarem queixas consistentes com qualquer gravidade). Eu só pensava: 'até Isabela, a labradora lá de casa, consegue ser médica assim'. Depois de algumas horas, fui dar um role e encontrei Cameron no corredor. Estava apreensiva pois uma paciente que estava sendo medicada estava desmaiando no corredor, sendo socorrida pelos enfermeiros.
Um de nós havia atendido a mulher. Minhas pernas tremiam e eu só pensava 'meu deus, que eu fiz de errado?' Para meu alívio, Cameron reconheceu a paciente, que tinha atendido minutos antes e como bom amigo que sou, cai na gargalhada com a façanha em nosso primeiro dia de plantão. Por orientação do preceptor, ela prescreveu medicação para baixar a pressão demais o que gerou uma hipotensão na coitada. Lógico que o preceptor tirou o dele da reta, pondo a culpa toda em Cameron (preceptores tem mania de pegar apenas os créditos de quando acertam a terapêutica...).
Por fim, voltamos ao nosso posto, passando pela 'geladeira da família dinossauro' (corredor dos pacientes a serem atendidos) e assim terminamos a noite, praticando medicina ilegal, pelo preceptor não dar a mínima para nós, e pagando um parcela de seu apartamento, afinal, era ele quem estava recebendo pelas 'fichas' as quais atendíamos.
Nada como ter o primeiro carimbo n cartão de plantões.
Como disse uma prima super querida minha: 'quer ser doutor? Tem que se ferrar mesmo'..
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